Amigos

Vemos o grupo de jovens ao longe. São cerca de 7, 8 talvez. Estão todos em conversa animada. Há rapazes e raparigas, todos com telemóveis de última geração. Erik aproxima-se; escolhe, propositadamente, a mesa mesmo atrás deste grupo. Senta-se e é imediatamente atendido, coisa rara nos dias de hoje. Pede apenas uma bica - será a sua companhia, mais o jornal que sempre o acompanha. Mas não, desta vez não vai ler, vai abrir o jornal como sempre, mas será a fingir. O que quer é ouvir a conversa do grupo de jovens da mesa ao lado. Falam sobre amizade, tema intemporal, tema de que todos gostam, menos, é claro, aqueles que dizem não ter qualquer amigo. Amizade é, pelo menos para aquele grupo de amigos, 100% quantificável. Basta saber quantos amigos se tem no facebook e já se sabe quem tem mais amigos. Erik assusta-se, não tem facebook. Será sinal de que não tem amigos?

Depois de ter ouvido a conversa dos jovens, Erik decide criar a sua página de facebook. Já está, com fotografia e tudo. Esteve horas a escolher a sua fotografia, fez várias tentativas, esteve indeciso várias vezes, mas conseguiu, finalmente, escolher a sua fotografia de perfil. Zero amigos! Preocupante. Assustador. O facebook faz-lhe agora uma série de sugestões. Como tem zero amigos, e tendo em conta que a amizade é quantificável, 100% quantificável, aceita todas as sugestões, não faz qualquer selecção. Está cansado, são já horas e horas seguidas nesta árdua tarefa, a de ter amigos no facebook e assim puder quantificar a amizade.

Por hoje chega, faltou já a dois compromissos: tomar café com o amigo de infância e jantar em casa dos pais. Mas valeu a pena, o número de amigos já passa dos 500. Antes do logout, passa em revista cada um dos seus amigos. Vê, cuidadosamente, cada nome e cada fotografia. Dos 500, 98% são conhecidos – frase que verbalizou, mas involuntariamente.

É isso, já percebeu: o que o grupo de amigos da mesa atrás de Erik não sabia era isso: há amigos e há conhecidos; e é preciso conhecer a diferença.